Durante os anos 70, a Rede Globo de Televisão mostrava em sua programação uma diversidade de filmes e seriados que eram vistos por qualquer adolescente que tivesse naturalmente um televisor, algo raro se situarmos essa experiência às adolescentes que residiam em bairros populares.
Na programação, seriados de diferentes matizes: futuristas (Robô Gigante, Os Invasores do Espaço, Os Vingadores do Espaço) que traziam temas ligados à ciência e à tecnologia, mas sem muitas inovações do ponto de vista dos papéis sociais de gênero. Os Vingadores do Espaço, por exemplo, era um seriado formado por uma família nuclear de robôs: um homem e uma mulher, em papéis tradicionais, além de um casal de filhos. Pelo visto, o futuro não era o feminismo.
Além do matiz futurista, os seriados se mostravam também míticos (O Planeta dos Macacos, Poderosa Ísis), outros mais urbanos (Mary Tyler Moore, Police Woman, As Panteras, Julia, Jennie é um Gênio, A Feiçeira). Destes urbanos, alguns eram tematicamente policiais: As Panteras, Police Woman e A Mulher Biônica. Esta última por sinal passou boa parte protagonizando o seriado, até que inventaram um affair com o Homem de Seis Milhões de Dólares e seu glamour perdeu-se. Ser coadjuvante pelo visto não atraía muito a audiência.
A questão é que eram muitos seriados. Muitos protagonizados por mulheres. Impossível não nos lembrarmos dos rodopios de Diana Prince para se transformar na Mulher Maravilha. Foi um período formado visivelmente por protagonistas mulheres solteiras, poderosas e felizes: Julia, Poderosa Ísis, Mulher Maravilha, As Panteras, Police Woman, Mary Tyler Moore... Todas elas com poderes paranormais ou normais, atuando em espaços antes reservados ao homem. Apesar dessa inserção em um novo espaço, as mulheres eram descritas como femininas, com olhar masculino - male gaze. É só observarmos os cabelos das atrizes. Mesmo correndo, saltando e se jogando pelo chão, estavam quase sempre bem maquiadas e penteadas. O ator que interpretava Bosley em As Panteras dizia que elas levavam horas só para arrumar os cabelos.
Ao mesmo tempo em que os seriados apresentavam as mulheres protagonizando as narrativas urbanas, em geral exibidas à noite, durante à tarde, na conhecida "Sessão da Tarde", os filmes vistos eram os dos anos 40 ou 50. Melodia Imortal, cuja trilha sonora trazia Noturno de Chopin, Melodia Interrompida, Suspiro de Uma Saudade e filmes de aventura envolvendo piratas e mocinhas destemidas que eventualmente desembainhavam a espada e enfrentavam os bucaneiros nos navios. Lembro-me de Burt Lancaster chamando os piratas de bucaneiros para confronto. Era um enunciado cheiro de heroísmo. Histórias de aventura e de amor, entre lutas, mortes e pouco sangue, com o eterno ocidental clichê do bem que vence o mal.
Um detalhe, quase todas nós sabíamos os nomes dos atores e atrizes e, eventualmente, dos diretores. No Corujão da Madrugada, que literalmente passava após a meia-noite, passavam os filmes que hoje não vemos nem na TV fechada. Primorosos, raros, cult...
Mulheres que voavam, lutavam com espadas, livravam-se das balas com um simples bracelete, manejavam bem as armas de fogo, e que, apesar de todas as peripécias, apaixonavam-se. Lembro-me de uma cena de As Panteras em que Sabrina se apaixonou. Esse episódio foi um dos piores, a meu ver, pois o fato de ter se apaixonado a fez se afastar do grupo. No final, ela se separa do homem e retorna para a equipe. Esferas difíceis de serem conciliadas...
Isso sem falar nas mulheres tidas como más, porém de um charme espetacular. Endora, mãe da Feitiçeira, era a sogra mais encantadora. Feminista, não queria ver sua filha sem seus poderes, o que sempre era um problema para o marido, mas a mãe a persuadia a preservá-los como forma de manter-se no controle. Outra vilã encantadora era a Mulher Gato, arquiinimiga de Batman, diferentemente de Batgirl, a mocinha, coadjuvante sem muita expressividade, a Mulher Gato era insuperável, "roubando" muitas vezes o protagonismo de Batman.
Na programação, seriados de diferentes matizes: futuristas (Robô Gigante, Os Invasores do Espaço, Os Vingadores do Espaço) que traziam temas ligados à ciência e à tecnologia, mas sem muitas inovações do ponto de vista dos papéis sociais de gênero. Os Vingadores do Espaço, por exemplo, era um seriado formado por uma família nuclear de robôs: um homem e uma mulher, em papéis tradicionais, além de um casal de filhos. Pelo visto, o futuro não era o feminismo.
Além do matiz futurista, os seriados se mostravam também míticos (O Planeta dos Macacos, Poderosa Ísis), outros mais urbanos (Mary Tyler Moore, Police Woman, As Panteras, Julia, Jennie é um Gênio, A Feiçeira). Destes urbanos, alguns eram tematicamente policiais: As Panteras, Police Woman e A Mulher Biônica. Esta última por sinal passou boa parte protagonizando o seriado, até que inventaram um affair com o Homem de Seis Milhões de Dólares e seu glamour perdeu-se. Ser coadjuvante pelo visto não atraía muito a audiência.
A questão é que eram muitos seriados. Muitos protagonizados por mulheres. Impossível não nos lembrarmos dos rodopios de Diana Prince para se transformar na Mulher Maravilha. Foi um período formado visivelmente por protagonistas mulheres solteiras, poderosas e felizes: Julia, Poderosa Ísis, Mulher Maravilha, As Panteras, Police Woman, Mary Tyler Moore... Todas elas com poderes paranormais ou normais, atuando em espaços antes reservados ao homem. Apesar dessa inserção em um novo espaço, as mulheres eram descritas como femininas, com olhar masculino - male gaze. É só observarmos os cabelos das atrizes. Mesmo correndo, saltando e se jogando pelo chão, estavam quase sempre bem maquiadas e penteadas. O ator que interpretava Bosley em As Panteras dizia que elas levavam horas só para arrumar os cabelos.
Ao mesmo tempo em que os seriados apresentavam as mulheres protagonizando as narrativas urbanas, em geral exibidas à noite, durante à tarde, na conhecida "Sessão da Tarde", os filmes vistos eram os dos anos 40 ou 50. Melodia Imortal, cuja trilha sonora trazia Noturno de Chopin, Melodia Interrompida, Suspiro de Uma Saudade e filmes de aventura envolvendo piratas e mocinhas destemidas que eventualmente desembainhavam a espada e enfrentavam os bucaneiros nos navios. Lembro-me de Burt Lancaster chamando os piratas de bucaneiros para confronto. Era um enunciado cheiro de heroísmo. Histórias de aventura e de amor, entre lutas, mortes e pouco sangue, com o eterno ocidental clichê do bem que vence o mal.
Um detalhe, quase todas nós sabíamos os nomes dos atores e atrizes e, eventualmente, dos diretores. No Corujão da Madrugada, que literalmente passava após a meia-noite, passavam os filmes que hoje não vemos nem na TV fechada. Primorosos, raros, cult...
Mulheres que voavam, lutavam com espadas, livravam-se das balas com um simples bracelete, manejavam bem as armas de fogo, e que, apesar de todas as peripécias, apaixonavam-se. Lembro-me de uma cena de As Panteras em que Sabrina se apaixonou. Esse episódio foi um dos piores, a meu ver, pois o fato de ter se apaixonado a fez se afastar do grupo. No final, ela se separa do homem e retorna para a equipe. Esferas difíceis de serem conciliadas...
Isso sem falar nas mulheres tidas como más, porém de um charme espetacular. Endora, mãe da Feitiçeira, era a sogra mais encantadora. Feminista, não queria ver sua filha sem seus poderes, o que sempre era um problema para o marido, mas a mãe a persuadia a preservá-los como forma de manter-se no controle. Outra vilã encantadora era a Mulher Gato, arquiinimiga de Batman, diferentemente de Batgirl, a mocinha, coadjuvante sem muita expressividade, a Mulher Gato era insuperável, "roubando" muitas vezes o protagonismo de Batman.
Sem dúvida, os anos 70 foram repletos de mulheres solteiras que protagonizavam seriados. Nunca a televisão desfilou tantas mulheres, em diferentes espaços, atuando de diferentes formas, muito embora esse olhar estivesse sob o controle de uma lente masculina. Mesmo com essas limitações, acredito que pouco ainda se sabe sobre o impacto desses filmes e seriados na vida das mulheres que hoje estão entre 45 e 50 anos.
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