domingo, 6 de dezembro de 2009

EXERCÍCIOS DO VER

Estar em uma loja de departamento pode valer um exercício reflexivo.

Hoje estive no Extra supermercado e, passando pelos televisores enormes - Plasma e LCD - que ficam na entrada da loja para nos persuadir a comprar um deles, acabei vendo trechos de um dos shows da cantora Rihanna (foto ao lado), que, por sinal, conhecia apenas das matérias jornalísticas que envolviam as agressões físicas praticadas pelo seu namorado.

A imagem da cantora com o olho roxo circulou exaustivamente pela inernet.

Acontece que apesar do show ser bastante dançante e movimentado não pude deixar de perceber um instante da performance em que um dos dançarinos alisava a perna da cantora e na sequência, de uma forma estilizada, com o corpo quase agachado, estendia o braço para frente e, na forma ritmada da música, flexionava-o para trás, isso tudo alinhado aos seus quadris. O gesto me chamou a atenção não pela novidade em si, aliás não havia nada de novo, o que é necessário inclusive para a mensagem ser imediatamente entendida, mas pela forma que o ato sexual estava sendo coreografado. Não há dúvida de que a semiotização do gesto ao sugerir e simular a penetração por meio de contornos artísticos, tornaram mais digeríveis, em meio a tantas luzes, sons e cores, uma mensagem que poderia sofrer interdito se fosse explicitamente dita.

Estudar as questões de gênero hoje nas linguagens é um exercício que exige do analista uma leitura de diferentes códigos acessados simultaneamente, em geral para ratificar a mensagem. Muita vezes captamos contradições, mas o que vemos normalmente é uma convergência e justaposição de uma mesma mensagem, mas feita por linguagens diferentes. Os shows das artistas são profícuos para uma análise de gênero, pois vendem um produto a ser consumido pelas massas em geral de adolescentes e jovens, mas que não é apenas a música. No caso dos DVDs, as músicas acompanham as coreografias, os figurinos, a organização e composição das bandas, as tomadas e planos da câmera, o enquadramento, compondo um texto complexo  e dinâmico, altamente gendrado, exigindo do analista um exercício difícil, pois ao mesmo tempo em que capta uma cena em especial, tem que analisá-la. Porém, esse exercício só é possível com tempo, com um ritmo diferente do que o da apresentação, levando o analista com isso a perder as cenas que sucedem, dada a velocidade das montagens e do jogo de câmeras.

Os vídeos musicais são valiosos objetos de estudo e merecem mais atenção, pois são produtos a serem consumidos pelas massas, homens e mulheres, e que materializam comportamentos de gênero com a ajuda eficiente das linguagens audiovisuais.

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