Embora não tematize a mulher (apesar de algumas gostarem do tema), não pude deixar de comentar uma manchete publicada ontem em um jornal de Salvador que trazia mais ou menos o seguinte enunciado sobre o cabelo do jogador de futebol Neymar: nem punk, nem índio, apenas na moda. Aparentemente parece que o enunciador (entidade do texto que diz algo sobre alguém ou alguma coisa) tem o interesse em desvincular a imagem do punk e do índio do estilo capilar de Neymar ao fazer referência ao corte de cabelo em que apenas uma linha central e vertical de aproximadamente dez centímetros, que vai do frontal da cabeça até a nuca, é mantida, tendo as laterais raspadas.
Neste enunciado, ao colocar a moda ao lado do punk e do índio, e ao encadear os três termos intercalados pela estrutura de negação nem...nem, percebi que a moda aparece como se não fosse algo ideologicamente manifesto, ao contrário do punk que se apresenta como movimento estético-político e o corte de cabelo indígena que corresponde a uma etnia, portanto com marca ideológica também. Já quando se fala no cabelo como moda, negando qualquer vínculo com as outras expressões, pressupõem-se de que não há na moda qualquer manifestação interessada: moda é apenas curtição... mas não é. Portanto, o cabelo de Neymar não é apenas moda (embora seja legítimo e compreensível que ele tenha que negar isso publicamente), é também uma afirmação de classe (origem) e, também, étnico-racial.
"É do cabelo à raiz, é da cabeça feliz."
(Chiclete com Banana)
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